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“Pouco valor terá a catequese, mesmo substanciosa e segura, se não for transmitida com eficiência de expressão e apoio daqueles subsídios didáticos que hoje se apresentam sempre mais ricos e sugestivos”.
(João Paulo II)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

VERBUM DOMINI, o esperado documento sobre A Palavra de Deus na vida da Igreja

O Santo Padre pede que a Palavra de Deus seja o nosso alimento, o plano de pastoral permanente, fonte de luz para o mundo.
Verbum Domini é o nome da nova exortação, publicada pelo Papa Bento XVI, no último dia 11 de novembro.  As palavras iniciais de um documento da Igreja tornam-se título e, ao mesmo tempo, resumem o conteúdo do mesmo documento. “Verbum Domini” quer dizer “Palavra do Senhor”. É a mesma expressão que usamos na liturgia, quando aquele que proclama a Palavra termina a leitura: Palavra do Senhor! O novo documento contém e consolida com a assinatura do Papa, todo o estudo feito por mais de 250 bispos e peritos de todo o mundo, reunidos no  Sínodo  de 2008, e estava sendo muitíssimo esperado, pois deverá conduzir a vida dos cristãos católicos a uma intimidade maior com a Palavra de Deus que ilumina e salva.
Dei Verbum – Verbum Domini
Não há como não lembrar outro documento sobre a Palavra de Deus, chamado “Dei Verbum”, de poucas páginas, porém decisivas, para toda a transformação da vida cristã, a partir do Concílio Vaticano II (1965). Foi a partir da Dei Verbum que a reforma litúrgica deu amplo espaço à Palavra de Deus, na missa. À luz da Dei Verbum, também a catequese colocou a Sagrada Escritura na mão dos catequizandos. As ciências bíblicas tiveram, a partir da Dei Verbum, um grande avanço. Esse documento fez surgirem os círculos bíblicos, colocou enfim a Bíblia Sagrada nas mãos dos católicos, antes só presente nas mãos dos pastores que, por sinal, passaram a ser designados como “evangélicos”, como se somente eles o fossem.
A Dei Verbum já tem quase 50 anos de caminhada. E não podemos dizer que se esgotaram suas inspirações e consequências. A nova Exortação Pós-Sinodal Verbum Domini não exclui, antes retoma e avança na mesma direção da Dei Verbum, apresentando-a a nós todos, como passo consequente de toda a caminhada litúrgica e pastoral que fizemos. Agora, animados pela força missionária proposta pela Conferência de Aparecida, deveremos retomar Palavra de Deus com mais empenho, como um mergulho radical na intimidade de Deus, a partir da Palavra, deixando-nos, literalmente, conduzir pela Palavra, vale dizer, pelo próprio Deus.
A XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada no Vaticano, por um mês inteiro, em outubro de 2008, foi convocada pelo Papa Bento XVI e preparada por um grupo de peritos em Escritura. O próprio Bento XVI esteve presente diariamente nesse encontro que apresentou, como resultado final, uma lista de cinquenta proposições. O Papa retoma essas reflexões, apontando rumos para toda a Igreja. A exortação é dividida em três partes. A primeira traz a fundamentação teológica: a Palavra é Cristo presente no mundo. A segunda considera a Igreja como espaço da Palavra. E a terceira parte convoca toda a Igreja a anunciar a Palavra ao mundo, motivando a justiça e a caridade. O Papa elege como destinatários privilegiados da Palavra os jovens, os migrantes, os sofredores, os pobres. O documento nos convida a sair dos limites da própria Igreja, oferecendo ao mundo uma Palavra que é capaz de dialogar com a cultura atual e conduzir o mundo a relações mais justas e cuidadosas com relação à natureza, pois,  todo ser criado é iluminado pelo Verbo.
Por mais 50 anos
Meu desejo é que a Exortação Verbum Domini não corra o risco de ser acolhida como uma novidade que passa, “mais um documento” que fica na estante ou na gaveta, como fazemos com as novidades descartáveis que compramos nas lojas.  A gente sabe que o Meios de Comunicação não valorizam nem divulgam os documentos da Igreja. Para a imprensa mundial, uma notícia de um pronunciamento do Papa sobre preservativos é destaque de primeira página, enquanto um documento, como esse, ganha duas linhas, num canto qualquer, sem importância. Será necessário, então, que os padres, religiosas, as lideranças de todos os grupos de pastoral, grupos de reflexão, movimentos, comecem já a ler e estudar as páginas desse documento. Que seja assunto das homilias, das reuniões e dos planejamentos. Que o convite do Santo Padre chegue, pouco a pouco, a toda nossa gente através da ação evangelizadora, missionária e espiritual.
Para “abrir o apetite”, coloco aqui, para o leitor do Estrela Matutina, alguns pensamentos que possam nos colocar em sintonia com o grande desejo da Igreja, de que a Palavra divina seja o alimento diário, essencial, saboroso, na mesa e na mente de todos. Estes pontos se ligam com a reflexão do Regional II, formulada na Assembleia do Povo de Deus de setembro último, para renovar a nossa vida paroquial á luz da Palavra:
  1. 1. Deus nos fala e nós respondemos – Através da Escritura, é Deus mesmo quem nos fala, e nós falamos com ele. Esse diálogo essencial é o alimento da nossa vida cristã quotidiana. No entanto muitos de nossos irmãos, para não dizer, a maioria, não têm acesso a esse encontro íntimo e amoroso com Deus, porque desconhecem a Palavra. Sem conhecê-la, é impossível saborear esse encontro divino. Muitos acham difícil entender a linguagem da Bíblia. Só com a leitura na missa, muitas vezes apressada e sem clareza, não dá para compreender, e muito menos manter um diálogo profundo com Deus. Uma mudança nesse quadro tem que partir de cada um de nós. Eu, você, cada cristão consciente, todos nós, temos que nos aproximar mais da Palavra, diariamente, sozinhos, em duplas, em família, de todas as formas. Faça um balanço: qual é o tempo diário que você gasta com a Palavra de Deus? Compare com o tempo que você gasta com outras leituras, com tv, computador, em conversas vazias… Lembre: Onde dois ou mais estão reunidos em seu nome, garante Jesus, ele estará presente, dialogando, ensinando, ouvindo e respondendo nossas indagações.
  2. 2. Uma escola Bíblica Paroquial – Para diminuir a distância entre os cristãos e a Palavra de Deus, uma escola Bíblica Paroquial seria uma ótima ocasião para oferecer o alimento da Palavra aos paroquianos com mais profundidade. Muita gente pede que haja essa oportunidade. Mas, se a Paróquia organizar um curso bíblico, haverá, de fato, um bom grupo interessado? É uma dificuldade real. Mas, de qualquer forma, temos de começar. Se a sua Paróquia não tem ainda um curso bíblico, ajude a organizar um. Mesmo com dificuldades de tempo, de pessoal preparado, mesmo que o padre esteja sobrecarregado, é urgente começar. E onde já existe essa oportunidade, é preciso ampliar e aprofundar. E não apenas “estudar” a Bíblia, como se estuda história, geografia ou ciências, mas aprender a ler espiritualmente, e rezar com a Bíblia, uma prática muito antiga da Igreja – a leitura orante – que começa a ser cada vez mais atraente.
  3. 3. Os Grupos de Reflexão Permanentes – Os participantes dos remanescentes grupos de reflexão são potencialmente os participantes de uma Escola Bíblica Paroquial, com a finalidade de alimentar melhor os próprios grupos e iniciar outros. Algumas dioceses elegeram como prioridade a Pastoral Bíblica, têm subsídios próprios para todos os grupos, e até um “dia da Palavra”, ou seja, um dia da semana escolhido para todos os grupos se reunirem, e celebrarem a Palavra. Nós já tivemos, na Diocese, mais grupos que hoje. Precisam ser novamente incentivados e acompanhados. A oportunidade que nos abre a Verbum Domini é excelente. Você participa de um grupo? Sabe quantos existem na sua paróquia? Tem algum na sua vizinhança?  Que tal começar, ou recomeçar, hoje?
  4. 4. Iluminação bíblica de toda a Pastoral – Bíblia é livro de oração. Supõe uma caminhada espiritual que se desenvolve, sobretudo, nas Pastorais e nos movimentos eclesiais. Esse é o ambiente para a prática da leitura orante da Bíblia. Ainda existe uma compreensão de que os Grupos de Reflexão são uma pastoral, ao lado das outras pastorais. Não é bem assim. A Exortação fala em “iluminação bíblica de toda a Pastoral,  e recomenda a todas as pastorais que a tenham a Palavra de Deus como ponto de partida e orientação de suas atividades. Em geral, aqueles que estão envolvidos nas pastorais e movimentos, estão sempre em grande e urgente atividade, organização, métodos e estratégias…  Seria bom que também dessem um amplo tempo e espaço para a Palavra de Deus em suas reuniões, para iluminar o caminho. Sem isso, somos “cegos guiando outros cegos”, como diz o Mestre.
  5. 5. Os destinatários do anúncio – O Papa deixa claro que não devemos ficar nos alimentando eternamente da Palavra, como crianças que escondem um doce só pra si. Nossa fé adulta deve se transformar em testemunho. A Palavra de Deus veio ao mundo para iluminar o mundo e não um punhado de cristãos. Por isso, o papa destaca algumas áreas prioritárias para onde devemos levar a Palavra, com insistência, com teimosia e coragem, como ele próprio tem feito, ao enfrentar, com paciência, a indiferença e até os insultos, nos países que visita. Ele cita especialmente como prioridade os jovens, os migrantes, os sofredores, os pobres. Fala em diálogo com a cultura, com as demais religiões,  e também da ecologia e o cuidado com a criação. Cada uma dessas áreas representa um imenso desafio, nesses tempos em que a Igreja é visivelmente perseguida. Mas não é isso que importa, e sim, o testemunho claro que devemos dar da Palavra, pois é ela que salva. Estamos preparados para este testemunho?
Caro leitor, agente de pastoral, cristão participante das nossas comunidades eclesiais, a Exortação Verbum Domini merece ser conhecida e amada. Ela abre um novo horizonte na nossa vida pessoal e eclesial. Ela não traz novidades como as novidades do jornal,  que chega à nossa porta e, no dia seguinte, só serve de papel de embrulho. Sua novidade tem o sabor e a surpresa, a oportunidade e a eternidade que tem o próprio Verbo encarnado, quando se faz semente e brota, como planta nova, no terreno bem preparado do coração de cada um de nós. Aproveite esse tesouro.

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