Homilia do 4º. Domingo da Quaresma – Pai misericordioso
PARA RELFETIR O EVANGELHO QUE TRABALHAMOS HOJE Lc15,1-3,11-32
A famosa parábola do filho pródigo é sempre atual e
comovente. No tempo da Quaresma, somos convidados a participar do ministério da
reconciliação: “Deixai-vos reconciliar com Deus”.
O verdadeiro nome da história contada por Jesus deveria ser Parábola do Pai misericordioso, embora
muitas vezes preferimos Parábola do filho
pródigo. De fato, a centralidade não deve estar no pecador que se converte,
mas no Pai que ama de modo incondicional. O Pai ama aquele que gasta parte
considerável de seus bens, ama e perdoa, sem se importar com a conduta do
filho. O pai misericordioso ama o filho mais velho, mesmo sendo rabugento. Ama
todos, independente dos pecados.
Cristo nos fez seus irmãos e nos revelou a face amorosa do
Deus que é Pai. Contudo, não é um pai severo, castigador ou distante, como
aqueles pintados nos antigos catecismos. Nas palavras de Henri Nouwen, o Pai da
parábola parece ter feições maternas em sua atitude de acolhida. Em sua
gratuidade, Deus não ama só os justos, mas veio para os pecadores (cf. Lc
5,31-32). Deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco e sai em busca daquela que
está perdida (Lc 15,1-7). Deus é um Pai que abre os braços para abraçar e fazer
festa com o filho pródigo que voltou para casa, sem perguntar o que ele fez com
seus bens. O evangelho de hoje é uma oportunidade para que experimentemos o amor
misericordioso e gratuito.
O outro personagem é o filho pecador. Este tinha a
experiência do Pai da lei e da justiça, não do Pai da misericórdia. Sua fuga é
uma tentativa frustrada de felicidade. O pecado é sempre uma busca, uma procura
por acerto. Como consequência perde tudo, afasta-se do amor, da casa paterna. O
que lhe resta são as sobras, a dureza da vida, a falta de amor. Caindo em si,
arrepende-se. Ainda não pensa nas lágrimas de seu pai, mas na sua dura situação
da sua vida. Seu retorno possibilita a manifestação do amor do Pai, que se
adianta para abraçar o filho, não pergunta sobre o que fez, simplesmente
devolve-lhe tudo: dignidade (dá-lhe roupa nova, calçado), filiação (anel no
dedo) e acolhida (festa com o novilho).
O filho mais velho nos traz lições preciosas. Aliás, ele é
fundamental na parábola, tendo em vista que Jesus está diante dos fariseus e
escribas que questionam o fato de Jesus se aproximar dos publicados. Ou seja,
Jesus questionou a atitude daqueles que condenavam os pecadores julgando-se
santos. É ilustrativo mencionar que o filho pródigo da parábola de Jesus
experimentou o amor do Pai, enquanto o filho mais velho, que sempre esteve em
casa, reclamou seu lugar diante da alegria manifesta pelo filho que voltou. É
mais fácil nos tornarmos os filhos mais velhos do que filhos pródigos. Não é
raro encontrarmos pessoas que se consideram religiosas porque vivem certas
práticas, mas vivem amargas; são incapazes de desfrutar da alegria como dom de
Deus. Jesus sempre criticou a atitude farisaica daqueles que se consideravam os
justos.
Assim, é preciso eliminar o julgamento, alegrar-se com
aqueles que estão em busca do Senhor mesmo que ainda não tenham deixado certas
atitudes. É preciso acolher os novos na comunidade em seu entusiasmo e não
julgarmos aqueles que são considerados, até por nossos cânones, como pecadores
públicos. Aquele que nunca fez festa com o pai, não compreende a festa do filho
mais novo que reconheceu a grandeza da misericórdia de Deus. Também aqueles que
nunca saem da Igreja devem estar atentos para não deixar de desfrutar da festa
de Deus, da alegria de ser cristão, desprezando aqueles que experimentam o Deus
de amor e bondade. Certamente, muitos de nós se sentem morando na casa paterna,
mas com a mesma atitude soberba do filho mais velho.
A experiência cristã inclui considerar-se pecador, sempre
necessitado da misericórdia. Significa não se achar santo, julgando os demais,
mas abrir-se ao amor gratuito do Pai. Nosso Deus é o Pai da Parábola da
misericórdia? Como está nossa atitude diante do Deus da graça: somos
cumpridores da lei ou participantes da festa? Em que lugar nos encontramos?
Existe em nossa vida marcas do filho pródigo? Existem também marcas do filho
mais velho?
Pe. Roberto Nentwig